10/03/2020 17h06 - Atualizado em 04/05/2020 16h38

Seminário debate atuação e liderança da mulher na gestão pública

Foto: Renato H. S. Moreira
A participação nos espaços de poder, a educação e o conhecimento, para o empoderamento feminino, foram alguns dos pontos enfatizados no evento

A Escola Superior da Procuradoria-Geral do Estado (ESPGE) realizou, na manhã desta terça-feira (10), o seminário “Mulher: liderança e gestão pública”. O evento, ocorrido no auditório da Procuradoria-Geral do Estado (PGE), contou com a participação da vice-governadora Jaqueline Moraes, procuradores de Estado, empresárias e autoridades do Poder Judiciário.

Na ocasião, foram abordados temas como empoderamento feminino, participação social, o papel da mulher nas empresas, no setor público e na política. A palestra de abertura ficou por conta da vice-governadora, que abordou “O papel da mulher na humanização da gestão pública”.

Em sua palestra, Jaqueline destacou que a política é desafiadora para a mulher. “Quando cheguei à Câmara dos Vereadores de Cariacica, éramos duas vereadoras entre 17 vereadores. Lembro-me de que uma das primeiras atitudes que tive em uma assembleia foi falar alto e bater na mesa e, infelizmente, quando uma mulher tem esse comportamento é considerada histérica. Ao mesmo tempo, se você fica muito quieta e não participa você é considerada boba. Mas no nosso governo me sinto confortável, pois venci barreiras impostas pela nossa sociedade e, hoje, posso debater políticas públicas para as mulheres com outras mulheres, que, assim como eu, ocupam espaços de poder”.

Após a palestra de abertura, teve início o primeiro painel do evento, que tratou dos “Desafios contemporâneos: a mulher no poder”. Mediado pela procuradora do Estado Maira Campana Souto Gama, o painel teve a participação das desembargadoras Janete Vargas Simões e Eliana Junqueira Munhós Ferreira; da secretária-geral do gabinete do procurador-geral de Justiça, Luciana Gomes Ferreira de Andrade; e da juíza federal Christiane Conde Chmatalik.

Ao iniciar o painel, a mediadora traçou um cenário resumido sobre a participação da mulher em cargos de alta relevância, sobretudo no Poder Judiciário, fazendo um contraponto ao grande número de mulheres que cursam o ensino superior. A partir daí, estabeleceu-se o debate entre as painelistas.

A primeira a falar foi a desembargadora Eliana Munhós, para quem a competência deve sempre falar mais alto. “Não estamos mais em 1908 ou 1917. Ocupem seu lugar pela sua competência e não pela sua condição de gênero”, afirmou Munhós, destacando ainda que, apesar dos desafios existentes, atualmente o cenário normativo é outro e dá a proteção necessária às mulheres.

Na mesma linha falou a desembargadora Janete Vargas, para quem a educação é a base de tudo. “Só conseguiremos mudanças com a educação e o conhecimento. A mulher ocupa seu espaço dependendo do seu conhecimento, da sua educação, do seu saber e, claro, das oportunidades que tem”, disse Vargas que, em seguida, reafirmou a importância de toda a luta feminina para chegar às condições atuais de igualdade com os homens.

As últimas a falar no primeiro painel foram a juíza federal Christiane Conde Chmatalik e a secretária-geral do gabinete do procurador-geral de Justiça, Luciana Gomes Ferreira de Andrade. Ambas apresentaram dados estatísticos apontando a participação feminina no Poder Judiciário. Christiane mostrou informações de âmbito federal, enquanto Luciana apresentou números dos Ministérios Públicos de todo o Brasil. “No Espírito Santo, o corpo funcional do MP tem maioria feminina (61%). Entretanto, esse percentual é outro quando se fala daqueles que exercem o poder como membros do MP”, disse ressaltando ainda ser muito importante que o Ministério Público tenha essa pluralidade para que possa cumprir, com legitimidade, suas funções.

O segundo painel abordou o tema “Desafios contemporâneos: a mulher na liderança”. Participaram como painelistas as empresárias Paula Barcellos Tommasi Correa (diretora executiva da Viação Águia Branca), Cristhine Samorini (diretora comercial da Grafitusa e diretora da Findes), a subsecretária de Planejamento e Projetos, Joseane Geraldo Zoghbi, e a vice-presidente da OAB/ES, Anabela Galvão. Como debatedora, participou a procuradora do Estado e vice-presidente da Associação dos Procuradores do Espírito Santo (Apes), Patrícia Cristine Viana David.

Neste segundo momento, quem abriu os trabalhos foi a diretora executiva da Viação Águia Branca, Paula Barcellos Tommasi. Na sua avaliação, a mulher deve estar sempre preparada para as oportunidades. “Quanto mais a mulher se colocar indisponível dentro do seu ambiente de trabalho, mais ela perderá espaços”. Paula ressaltou também que as mulheres precisam fazer as coisas à sua maneira, sem a necessidade de imitar os homens. “Existe uma pressão muito grande para exercer o poder de forma masculina, mas nós temos que fazer isso de outra forma, da nossa maneira”.

Cristhine Samorini falou em seguida, abordando a necessidade de se adotar a diversidade dentro do ambiente de negócios. Em sua apresentação, mostrou que a presença feminina em cargos de presidência e vice-presidência no Brasil ainda é bastante inferior se comparado com a ocupação destes cargos por homens. Sobre o evento, Cristhine declarou ter sido bastante proveitoso. “O seminário foi de alto nível. Tivemos a oportunidade de ver olhares diferentes sobre um mesmo tema, respeitando as diferenças. Acho que esse é o grande desafio: trabalhar para respeitar as diferenças, que é quando conseguimos os melhores resultados. A diversidade traz muitos temas importantes a serem discutidos”.

Finalizando o seminário, falaram a vice-presidente da OAB-ES, Anabela Galvão, e a subsecretária de Planejamento e Projetos, Joseane Geraldo Zoghbi. Anabela contou que, atualmente, o número de aprovados no exame da OAB é maior entre as mulheres do que entre os homens. Já Joseane iniciou sua fala contando um pouco de sua história de vida, que, segundo ela, foi marcada por muitas dificuldades.

Joseane Zoghbi destacou a importância da sororidade entre as mulheres. E citou: “A cada quatro minutos, uma mulher sofre violência no nosso país. Além disso, nós, mulheres, recebemos, em média, 20,5% a menos que os homens, segundo o IBGE. Em 153 países analisados, o Brasil ocupa a 92º posição em desigualdade de gênero, segundo o Fórum Econômico Mundial”. Para a subsecretária, “cabe às mulheres mudar essa realidade, educando as futuras gerações”. Ela também afirma que a capacitação é o melhor caminho para o empoderamento feminino. “Para ter excelência e profissionalismo, o único caminho é a educação. Através dela, podemos nos sentir empoderadas para seguir em frente”.

Sobre o evento, a subsecretária parabenizou a PGE. “Foi muito bom, porque tivemos vários pontos de vista: o olhar social, o olhar empresarial e isso é diversidade. Temos que aproveitar eventos como esse para falar pelas minorias. Mulheres são minoria nas lideranças. Mas, juntas, podem fazer com que mais mulheres sejam líderes aqui no nosso Estado. Cada mulher que ascende deve levar consigo mais dez, nessa mesma direção. Temos que nos unir”, reforça ela.

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